O sol raiava e alguns seres humanos já se deslocavam rumo aos blocos nesse calorento domingo pré-carnavalesco no Rio de Janeiro. Eles saltavam lépidos e fagueiros pelas ruas da Zona Sul enquanto eu seguia para aquele outro município, a Barra da Tijuca, com a finalidade de trabalhar. Sonada, meio febril e com um lado da parte interna da minha bochecha mutilado pelo aparelho ortodôntico, não posso descrever como bom humor o que sentia naquele momento.
Na volta, lá pelo fim da tarde (e dos blocos), tomo a inteligente decisão de pegar um ônibus em Ipanema, depois uma viagem que alternava sacolejos e minutos parada em engarrafamentos num 382 sem ar condicionado e cheirando a óleo queimado. Após 1 hora e 8 minutos de espera, (sim, contei), vem o esperado coletivo, já bem cheio.
Pelo menos consegui lugar num daqueles bancos altinhos anteriores à roleta. Já ensaiava um cochilo quando, no ponto seguinte, o coletivo é ocupado por umas duas dezenas de cidadãos embriagados e mal cheirosos, com aquelas caras de fim de bloco. Pra piorar a já desesperadora situação, constatei que os cidadãos era em sua maioria playboys. E a cada ponto o confortável coletivo era ocupado por mais e mais sujeitos e mocinhas com as mesmas características. Alguns identificavam "lesques" camaradas no corredor do coletivo, mesmo a metros de distância. Uma festa:
"Coé, Vitinho! Porra, viado!! Tava aonde, caralho! Peguei duas, porraaaaa!!"
O volume máximo do meu ipod já não era suficiente para me manter alheia à tanta juventude e empolgação. Para completar, o pedacinho de paz ao lado do meu banco é ocupado por um grupo composto por duas patricinhas com caras de calouras de Direito e um bobo alegre, certamente migrante das micaretas.
Na falta de um vendedor de balinhas na área, o sujeito em questão resolveu adotar como o passatempo da sua viagem uma brincadeirinha marota: morder a axila direita de uma das mocinhas com cara de caloura de Direito, que mantinha os braços esticados para se segurar na barra de ferro do coletivo. E enquanto o bobo alegre se ocupava de mordiscar a axila da moçoila, a referida se distraia repreendendo seu algoz aos gritinhos - com voz aguda e esganiçada - seguidos de um "ai, seu chatooooo". E as mordidas seguidas pelos berros estridentes se sucederam até Niterói, onde desembarquei aliviada e ansiosa pra tomar um banho, me esticar na cama e ver o Oscar. O dia ruim havia acabado. Pelo menos foi no que eu acreditei até chegar em casa e descobrir que havia um lado da minha rua sem luz. Adivinhem qual era?